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Código de referência
Título
Data(s)
- 1970 - 1992 (Produção)
Nível de descrição
Dimensão e suporte
- Extent
- Suporte papel: aprox. 14 metros lineares; suporte audiomagnético: 21 itens.
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Nome do produtor
História administrativa
A jornalista Jan Rocha, nascida na Inglaterra, morava no Brasil desde 1969, quando de seu casamento com o advogado brasileiro Plauto Tuyuty da Rocha. Jan foi correspondente internacional do jornal The Guardian, entre 1973 e 1994, e da Rádio BBC de Londres, de 1984 a 1994. Também era assistente social e tinha boas relações com a Anistia Internacional. Jan Rocha produziu reportagens importantes, sendo que numa delas registrou o depoimento do pastor Jaime Wright sobre o desaparecimento de seu irmão, Paulo Stuart Wright, anos antes da existência do próprio Clamor.
O advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, nome de referência entre os familiares de presos políticos brasileiros, também era militante na luta pelos direitos humanos. Vivendo no Brasil, Luiz Eduardo exercia uma atividade perigosa, pois diversos advogados foram alvos de ameaças e mesmo de sequestros e prisões.
O pastor presbiteriano brasileiro Jaime Wright, desde o golpe de 1964, engajou-se na luta pela defesa dos direitos humanos. Secretário-Geral da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil, Jaime ajudou a consolar famílias, enviar denúncias ao exterior e estruturar entidades que lutavam pelos direitos humanos. Em 1973, Jaime Wright procurou o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh pedindo ajuda para encontrar Paulo Stuart Wright, seu irmão desaparecido em setembro desse ano. O pastor também procurou o auxílio de dom Paulo Evaristo Arns para localizar seu irmão, estabelecendo com o cardeal uma amizade e companheirismo na realização de muitos projetos.
Assim, a jornalista, o advogado e o pastor engajados em causas solidárias, usaram sua atividade profissional como militância em prol dos direitos humanos. Após aquele primeiro encontro na residência do casal argentino houve novas reuniões, com o objetivo de elaborar premissas de atuação e estruturação de um grupo para acolher a grande quantidade de estrangeiros que acorriam a São Paulo em busca de asilo e de alguém disposto a escutar suas denúncias e tomar as providências cabíveis em tempos de repressão. As primeiras reuniões aconteceram no Instituto Sedes Sapientiae e nas casas dos membros. Chegaram ao consenso da necessidade de articular-se com a Igreja Católica, que garantiria proteção ao grupo.
O nome Clamor surgiu nas primeiras reuniões, e foi escolhido por ser forte, mobilizador e ter o mesmo significado em português, espanhol e inglês, por conter a palavra amor e as letras L e A, de América Latina. O nome fez o pastor lembrar um texto bíblico, o salmo 88, que se encaixava perfeitamente como lema do grupo: “Inclina os teus ouvidos ao meu clamor”. O símbolo do grupo veio de um cartão recebido por Greenhalgh, no Natal daquele ano, do preso político Manuel Cirilo de Oliveira Neto. A capa do cartão trazia uma vela detrás das grades, e tornou-se símbolo da busca de esperança aos prisioneiros e perseguidos pelos sistemas repressores. O grupo também possuía um slogan: “SOLIDARIEDADE NÃO TEM FRONTEIRAS”, e foi com ele que o Clamor percorreu todos os países do Cone Sul, além de ter buscado apoio e ajuda financeira junto a organismos internacionais.
O grupo procurou o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, considerado “cardeal subversivo” pelos ditadores. Mergulhado na realidade e nas necessidades do povo, dom Paulo foi um problema constante para os militares, e ficou famoso por sua atuação a favor dos direitos humanos em sua arquidiocese. Anos antes, Dom Paulo começou a montar uma ampla rede de defesa dos direitos humanos, na qual o Clamor inseriu-se; seu engajamento foi tão expressivo que empresários paulistas redigiram uma carta assinada por vinte mil pessoas exigindo ao Vaticano seu afastamento da Arquidiocese de São Paulo, pedido este que não foi atendido.
Dessa forma, o Clamor foi incorporado à Comissão Arquidiocesana de Pastoral dos Direitos Humanos e Marginalizados, criada em 1976, tornando-se um anexo dessa Comissão, com o intuito de cuidar da grande quantidade de estrangeiros que acorriam à Cúria Metropolitana em busca do amparo de dom Paulo. O Clamor, que não é uma sigla, integrou-se à arquidiocese como Comitê de Defesa dos Direitos Humanos para os Países do Cone Sul. Trabalhando junto ao Clamor, na Arquidiocese de São Paulo, estava a Comissão Justiça e Paz (CJP-SP).
O grupo começou a trabalhar de forma improvisada na Cúria, estabelecendo seus objetivos, sendo o mais urgente deles dar assistência aos refugiados que buscavam auxílio na Cúria e não eram reconhecidos pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). O segundo objetivo era a divulgação de todas as denúncias recebidas após confirmação de sua veracidade. O meio utilizado para difundir tais denúncias foi a publicação de boletins não periódicos distribuídos em três idiomas: português, voltado à imprensa e entidades nacionais; espanhol, para entidades de direitos humanos, amigos e familiares de perseguidos políticos; inglês, para organismos europeus e da América do Norte. A responsável pela confecção desses boletins era Jan Rocha: foram publicados 17 números, ao longo de doze anos. Entre os assuntos tratados, há um documento especial sobre cada um dos países do Cone Sul, enfocando as violações dos Direitos Humanos; a luta do povo para denunciar e derrotar os regimes militares implantados; a situação das prisões e o tratamento dado aos presos; edição especial sobre a opressão sofrida pelos sindicatos no Cone Sul; número sobre a legislação pertinente aos refugiados; em 1980, denúncia completa das violências praticadas na Bolívia depois do golpe militar. O último objetivo foi o estabelecimento de contatos com entidades nacionais e internacionais de defesa de direitos humanos para a formação de uma rede.
Quanto ao caráter ecumênico do grupo, apesar de estar incrustado na Arquidiocese de São Paulo, o Clamor reuniu católicos e protestantes em busca de uma causa comum em atividades nas quais a solidariedade independia do credo. Conforme o Padre Roberto Grandmaison, nem todos os membros do grupo praticavam alguma religião, mas a ação do Clamor fazia parte de um grande processo de evangelização. Dom Paulo Evaristo sempre teve a mente aberta, estando, naquele momento, mais preocupado com a situação extrema de repressão na América Latina. O grupo contava, também, com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), fundada por James Wright.
A presença do pastor Jaime Wright no grupo garantiu a concessão de uma verba periódica junto ao Conselho Mundial de Igrejas (CMI), que agrupava, em meados da década de 1970, cerca de 500 milhões de fiéis de igrejas protestantes, ortodoxas e anglicanas e tinha um setor específico de direitos humanos para a América Latina. Quem dirigia esse setor era Charles Harper, grande amigo do pastor Wright. Além dele, outro amigo do pastor, Philip Potter, secretário-geral do CMI, articulou junto à entidade para financiar as atividades do grupo Clamor.
Desde o início, foi acordado que o Clamor nascia com data para terminar: quando se extinguissem as ditaduras de Segurança Nacional no Cone Sul. O Clamor surgiu para lutar contra as violações dos direitos humanos nos países sob forte repressão, nos quais mesmo grupos de solidariedade eram perseguidos e/ou impedidos de atuar.
Desse modo, no início do ano de 1978 o grupo Clamor iniciou suas atividades. A Comissão Arquidiocesana de Pastoral dos Direitos Humanos e dos Marginalizados de São Paulo passou a abastecer o grupo com alguns de seus integrantes: os dois primeiros reforços foram a irmã estadunidense Michael Mary Nolan e o padre canadense Roberto Grandmaison.
Com o aumento da demanda de trabalho, em 1979, o quadro de voluntários precisou ser ampliado, e mais dois integrantes da Comissão Arquidiocesana foram recrutados para o grupo: o advogado Fermino Fecchio e a química e professora Thereza Brandão, que havia morado no Chile e tinha bons contatos neste local, ficando encarregada pelos casos desse país.
Após um desentendimento interno – que levou à saída do pastor Jaime Wright do grupo em abril de 1984 –, novas voluntárias foram incorporadas: a psicóloga e psicanalista Maria Auxiliadora de Almeida Cunha Arantes; Maria Aparecida Antunes Horta, esposa de Greenhalgh; Inge Schilling, esposa de Paulo Schilling e mãe de Flávia Schilling. Os dois últimos reforços foram a tradutora Lilian do Amaral Azevedo, e frei João Xerri.
Além desses membros nominados, cabe ressaltar a importância da participação dos familiares dos integrantes do Clamor em seu apoio estratégico ao grupo. São os casos, dentre outros, de Alma Wright, esposa do pastor Jaime, e do advogado brasileiro Plauto Tuyuty Rocha, esposo de Jan.
O sucesso do Clamor foi possível graças ao trabalho coletivo com tantas outras entidades de defesa dos direitos humanos; grupos de familiares de presos e desaparecidos políticos; e indivíduos que prestaram seu apoio à causa solidário do Comitê. A relação do Clamor com a rede integrada de defesa dos direitos humanos se deu por meio da troca de informações para compor e fundamentar denúncias (como as listas de desaparecidos), da ajuda mútua a favor de perseguidos políticos, na tentativa de localização das vítimas e resolução coletiva de problemas comuns aos países do Cone Sul. Os métodos utilizados para tais fins foram a contrainformação como forma de resistência não violenta e uma estratégia de ação oposta àquela já criada pelos sistemas repressivos para aniquilar adversários, articulando uma “Operação Contra Condor” de solidariedade sem fronteiras.
Um dos trabalhos que mais prendeu a atenção de todos da equipe do Clamor foi a elaboração da lista de desaparecidos da Argentina. Seu objetivo foi mostrar que cada um dos milhares de desaparecidos era uma mulher, um homem, uma criança, pai, mãe ou filho, com identidade, e não um número, ou pior, uma abstração. Esse trabalho teve a duração de dois anos, e contou com a colaboração de vários refugiados. Em 1980, foi elaborada uma ficha-padrão para coleta de informações e denúncias de tortura e desaparecimentos, estruturada de forma a permitir seu preenchimento em qualquer língua. A ideia foi a de se personalizar os desaparecidos e de se ter uma referência mais concreta sobre sua idade, sua profissão, sua família, seu estado civil, o lugar e a data sua prisão. A sistematização desses dados deu origem ao livro “Desaparecidos en la Argentina” (Disapeared in Argentina), publicado em 1982. O livro, editado em espanhol e em inglês, reuniu, em suas 416 páginas, informações de 7.791 desaparecidos na Argentina.
A repercussão desse trabalho levou a Comisión Nacional de los Desaparecidos Políticos (CONADEP), organizada na Argentina a partir da posse do presidente eleito Raúl Alfonsín, no início de 1984, a solicitar ao Clamor subsídios sobre os desaparecidos elencados no livro, a fim de aprofundar suas investigações e descobrir seu paradeiro. O trabalho de elaboração da lista dos desaparecidos permitiu ao Clamor aprofundar uma pesquisa que havia iniciado a partir de denúncias muito sérias a respeito de “crianças desaparecidas”. Foi constatada que a barbárie tinha caído num nível raramente atingido pela pessoa humana: sequestrar mães grávidas; torturá-las; esperar a hora do parto para depois matá-las e traficar os bebês. Isto sem falar nas crianças que foram sequestradas junto com seus pais na ocasião da prisão dos mesmos: houve uma compilação comprovada de cento e sessenta e três casos.
O Clamor realizou muitas diligências para apurar os casos dessas crianças e colaborou na solução de vários deles, como, por exemplo, o caso de “Anatole e Victoria Eva Lucia”: crianças uruguaias sequestradas junto com seus pais na Argentina, deportadas ilegalmente para o Chile, onde o Clamor os achou na cidade de Valparaíso. Os pais dessas crianças foram mortos nos porões da ditadura argentina. A localização de Anatole e Vicky desencadeou uma reação em cadeia na tentativa de localização de outras crianças desaparecidas. Cartas, denúncias, telegramas chegaram de vários países do Cone Sul, fazendo apelos, fornecendo dados para que o Clamor denunciasse outros desaparecimentos.
O Clamor também atuou dentro do Brasil: deu o alarme quando os refugiados uruguaios Lilián Celiberti, seus dois filhos e Universindo Díaz Rodríguez foram sequestrados em Porto Alegre, em novembro de 1978.
Depois de atingidos seus objetivos, o Clamor encerrou suas atividades em 1991, propositalmente no dia 10 de dezembro, dia internacional dos Direitos Humanos.
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Instrumentos de descrição
Guia do Centro de Documentação e Informação Científica “Prof. Casemiro dos Reis Filho” – CEDIC – PUC-SP. São Paulo online, disponível em: http://www4.pucsp.br/cedic/semui/fundos/comite_de_defesa.html?_ga=2.21967291.1672329675.1558042978-194469652.1551971002
Listagem atualizada do conteúdo das caixas e pastas que compõem o fundo.
ANDRADE, Ana Célia Navarro. Descrição do Fundo Comitê de Defesa dos Direitos Humanos para os Países do Cone Sul. Dissertação de Mestrado em História Social – Linha de Pesquisa “Historiografia e Documentação”, orientada pela Profª Dra. Ana Maria de Almeida Camargo, defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH, da Universidade de São Paulo (USP), em dezembro de 2000. São Paulo, 2000. (arquivo em PDF).
Guia do Centro de Documentação e Informação Científica “Prof. Casemiro dos Reis Filho” – CEDIC – PUC-SP. São Paulo: EDUC, 1995. 160p. (Coleção Memória, Documentação e Pesquisa, 3). (publicação impressa)
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Datas de criação, revisão, eliminação
Actualización: noviembre 2019
Idioma(s)
- espanhol
- português
Script(s)
Fontes
PROGRAMA MEMÓRIA DO MUNDO DA UNESCO COMITÊ NACIONAL DO BRASIL REGISTRO NACIONAL 2007 : CLAMOR Arquivo do Comitê de Defesa dos Direitos Humanos para os Países do Cone Sul, do Centro de Documentação e Informação Científica – CEDIC / PUC / SP
Entrevista com os responsáveis do CEDIC
Formulario de ActualIzación IPPDH